Ferrol 1916. Ricardo Carvalho Calero.

FERROL 1916

Cinco duros pagábamos de aluguer.

Era um terceiro andar, bem folgado.

Pola parte de atrás dava para o Campinho,

e por diante para a rua de Sam Francisco.

No segundo vivia a minha tia aboa:

Tiña unha peza cheia de paxaros disecados

que só abria os dias de festa

para que os nenos disfrutásemos nela.

Ainda vivia minha mãe

e todos os meus irmaos viviam,

e em frente trabalhava o senhor Pedro o tanoeiro,

e a grande tenda de efeitos navais mantinha o seu trafego.

Na casa tinhamos pombas

e, por suposto, un grande gato mouro;

e o mue pai era novo ainda

e no mar do mundo cada dia descobria eu unha ilha.

Via o mar da minha fiestra,

e chegavam cornetas da marinha.

E baixava os degraus duas vezes ao dia para ir à escola,

e duas vezes rubia-os de volta.As mulheres entom usavam capa e corsé,

e íamos à aldeia em coche de cavalos,

e a rua estava ateigada de pregons de sardinhas

e de ingleses que vendiam Bíblias.

Eu tinha un pacto con Deus:

que ninguén dos meus morreria.

E o pacto era observado,

e eu confiaba na perenidade do pacto.

Todo isto fica tam longe

que aduro podo ainda lembrá-lo.

Esqueceria-o dentro de pouco tempo

se non escrebese estes versos.

Carvalho Calero, R., (1982) Futuro condicional

Clásicos Libres

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