Sonho de Catarina. Ricardo Carvalho Calero.

SONHO DE CATARINA
Jardineira, coida as tuas flores.
Os lobos baixam da montanha.
Jardineira, coida as tuas flores.

Os lobos saem dos seus tobos.
Os debulhadores de flores.
Coida as tuas flores, jardineira.

É a hora em que congrega o galo
na trave, cansas, as galinhas.
Cansas de pôr ovos de neve
e debulhar vermes de esmeralda.

Os lobos baixam da montanha.
Os cans ouveiam à lua
e nom vem que baixam os lobos.

Som lobos escuros e raudos,
cujos olhos abrem na noite
corredoiras de lume roxo.

Amam as flores, e, ao ceá-las,
bêbedos, dançam nos jardins,
baixo a olhada leda da lua.

Catarina, a tua fiestra
abre-se ao jardim, Catarina.
Catarina, cobre as façulas.

Que lobos mais originais!
Deixam espidas as roseiras.
Que lobos mais originais!

Estás sonhando, Catarina?
Diamantes que rachem os vidros?
Ou serám os olhos dos lobos?

Catarina, quem fosse lobo,
para debulhar-che as façulas…

O abrente adianta no horizonte
um anaquinho de presença.
Os lobos, cantando e rindo,
rubem aos tobos da montanha.
Ao passar junta os cans dormidos,
acenam-lhes sem que se decatem.

Umha rejeirinha de sol,
como umha aguilhada de ouro,
fere no lombo dos lobos.

Os lobos botam a correr.

Luz. Catarina despertou

Carvalho Calero, R. (1980) Pretérito imperfeito.

A banda da Loba

Deixa unha resposta

O teu enderezo electrónico non se publicará Os campos obrigatorios están marcados con *