Lista da compra -da viúva-. Emma Pedreira.

Na lista da compra só há cousas para mim.
Não coitelas, não arrebatadas ameixas,
/qualquer infusão pra inventar-me doenças.
Não há; não há.
Não há pão de sementes pra arder na cozinha
/enquanto ti e mais eu,
nem bombões de licor que mordamos a meias,
/nem tabaco para o depois.
Não há; não há.

E já não tatuo na minha neveira
/lugares do mundo vividos contigo
pra saber se fomos/ou não/ felizes ali.
E na minha lista mesturo os 10 anos
/porque estes 40 pesam como 100
Comprando de novo cousas
/que fai tempo que não:

Na lista da compra só há ar e sombra,
não gasto em comer, não gasto em chorar,
(Só cousas que preciso)
e já não escolho
a fruta por como se pareça a sua pele à tua.
Só aperto com os dedos (os extremos) das peras,
sentir o teu sumo outra vez nas minhas gemas…
Nas minhas gemas outra vez….
o teu sumo outra vez

Na lista da compra só há cousas para mim.

Panos do nariz e algodões
/e doces que ferem as bágoas e as moas.
(vou contendo o dessangre)
Tiritas, suturas,
fio pro desgarro, e gelo pras feridas.
E volto aos cigarros, tampões para os olhos,
pinturas para os poros lacazáns.

E compro etiquetas e marco na pele
os lugares que já nunca mais…
E pinto os meus lábios e sei que
os teus beijos no mo ham de arrincar.
Maquilho este último golpe,
/e masa para a minha cara,
Pretendo tapar as feridas,
/as marcas, as fendas da minha ruína.

E compressas.
Porque esta manhã -provavelmente- perdemos
a última oportunidade
de ser os terríveis pais
dum indómita nada.

Pedreira, E., (2018), Antídoto.

Berlai

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